segunda-feira, 6 de julho de 2009

A Casa do Zé, Luiz Caldas & Deus

Há onze meses, A Casa do Zé esteve em Salvador para gravar a participação de dois grandes Artistas: Armandinho Macedo, que gravou um belíssimo bandolim em duas canções e Luiz Caldas, que emprestou sua voz a duas faixas do CD.

A intenção de aproximar Luiz Caldas à Casa do Zé, se dera uns seis meses antes daquele 16 de agosto, dia marcado para a gravação. Em um ensaio, eu e Emerson tocamos, sem grandes pretensões, a canção É tão bom. Ocorreu-me, daí, colocá-la no repertório do CD. Infelizmente, numa primeira tentativa, não deu certo, em função de alguns entraves burocráticos. Posteriormente propusemos que ele graveasse uma outra canção conosco (Borboleta, do auto de natal nordestino). Luiz Caldas aceitou o convite e ainda conseguiu a liberação de É tão bom.

Foram - e continuam sendo - inesquecíveis o carinho e a generosidade com que Luiz Caldas nos recebeu em sua casa e em seu estúdio.

Lembro que, talvez numa tentativa de quebrar o gelo e mais disfarçadamente de mostrar que não estávamos ali como aproveitadores, explicávamos cuidadosamente qual era o projeto e a intenção da Casa do Zé. Luiz ouviu, setenciou e soube deixar-nos à vontade: "Basta ser do bem pra eu participar".

Gravamos o que tínhamos de gravar, ouvimo-lo tocar, fomos apresentados ao seu projeto das 130 músicas inéditas e tive um momento tiete: pedi para que Luiz cantasse a música Deus para que eu filmasse. Ele cantou, eu filmei!

Já assisti ao vídeo um-sem-número de vezes e entendi que o artista, o poeta é um cronista (atemporal) de sua época. Ouvi a música de Luiz e não me saiu mais da cabeça o soneto do Mario Quintana:

Se eu fosse um padre

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado - muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções, não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus! Porque a poesia purifica a alma ...e um belo poema - ainda que de Deus se aparte - um belo poema sempre leva a Deus!

Um abraço, Luiz!

João Ricardo M. Trindade